O ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
suspendeu nesta quarta-feira, 26/02, o trâmite de todas as ações relativas à
correção de saldos de FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) por outros
índices que não a TR (taxa referencial).
A decisão alcança ações coletivas e individuais em todas as instâncias
das Justiças estaduais e federal, inclusive juizados especiais e turmas
recursais. A Caixa Econômica Federal (CEF), que pediu a suspensão, estima serem
mais de 50 mil ações sobre o tema em trâmite no Brasil. Dessas, quase 23 mil já
tiveram sentença, sendo 22.697 favoráveis à CEF e 57 desfavoráveis. Ainda
haveria em trâmite 180 ações coletivas, movidas por sindicatos, e uma ação
civil pública, movida pela Defensoria Pública da União.
A suspensão vale até o julgamento, pela
Primeira Seção do STJ, do Recurso Especial 1.381.683, que será apreciado como
representativo de controvérsia repetitiva. Ainda não há data prevista para esse
julgamento.
Inflação e TR
As ações buscam, em geral, obrigar que o FGTS seja corrigido pela
inflação e não pela TR. Segundo a CEF, a jurisprudência brasileira seria
“remansosa” em seu favor, já que não há nenhum dispositivo legal que determine
tal índice. A pretensão ainda configuraria, no entendimento da CEF, indexação
da economia. Na ação que resultou no
recurso repetitivo, um sindicato argumenta que a TR é parâmetro de remuneração
da poupança e não de atualização desses depósitos. Por isso, a CEF estaria
equivocada ao usar essa taxa para o FGTS.
A ação destaca que a TR chegou a valer 0% em períodos como setembro a
novembro de 2009 e janeiro, fevereiro e abril de 2010. Como a inflação nesses
meses foi superior a 0%, teria havido efetiva perda de poder aquisitivo nos
depósitos de FGTS, violando o inciso III do artigo 7º da Constituição Federal.
O sindicato aponta que a defasagem alcançaria uma diferença de 4.588%
desde 1980. A pretensão foi afastada em primeira e segunda instância no caso
que chegou ao STJ.
Justiça homogênea
Para o ministro Benedito Goncalves, a suspensão evita a insegurança
jurídica pela dispersão jurisprudencial potencial nessas ações. Gonçalves destacou que o rito dos recursos repetitivos serve não
apenas para desobstruir os tribunais superiores, mas para garantir uma
prestação jurisdicional homogênea às partes, evitando-se movimentações
desnecessárias e dispendiosas do Judiciário.
O processo segue agora ao Ministério Público Federal por 15 dias, para
parecer. Depois, o ministro relator elaborará seu voto e levará o caso para
julgamento perante a Primeira Seção do Tribunal, que reúne os dez ministros
componentes das Turmas do STJ responsáveis pelo julgamento de temas de direito
público.
Fonte: STJ
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